Palavreado Solto...

A poesia performática de Cordel do Fogo Encantado
Davi Rocha Lima
mandaemailprodavi@gmail.com

Extraido do site Livrevista - A revista do senso incomum

Nos CDs do Cordel percebem-se fortes influências literárias, o que não é diferente nesse último CD.
Lirinha: Esse trabalho é o que mais tem citações literárias e escritas. Todos os nossos trabalhos fazem referências literárias, mas esse disco é mais aberto a esse conceito, é uma idéia nossa colocar inspirações literárias em cada música.

Como vocês classificam o tipo de música que O Cordel do Fogo Encantado faz?
Lirinha: A classificação que a gente faz é bastante complicada, temos indicação pra prêmios nos mais variados rótulos. Fomos indicados agora para o Prêmio TIM, melhor grupo de por/rock nacional, o que causou um estranhamento no país inteiro na crítica especializada. Eu achei interessantíssima essa indicação, porque é um grupo que não trabalha com símbolos pop, como a guitarra, a bateria e o baixo. Também não toca em rádio, não está presente na televisão. Interessante estar concorrendo com Os Mutantes e Skank. Eu recebi o prêmio pela APCA [Associação paulista dos críticos de Arte] de melhor compositor em 2006 de MPB e antes disso o Cordel foi indicado a uma dezena de prêmios regionais.

Como vocês trabalham a questão percussiva na banda? Já que três dos cinco integrantes são percussinistas?
Lirinha: A maior contribuição que a gente dá com o disco Transfiguração é colocar percussão nesse momento contemporâneo, dessa geração, sem ser algo arcaico, tradicionalista, conservador. Isso é um preconceito que já vem junto com qualquer música percussiva, essa idéia de ancestralidade. Clayton Barros: A gente é uma banda praticamente percussiva, não tratamos a percussão como complemento, ela é a pilastra do nosso grupo. Tem toda uma diferença para as outras bandas que tratam a percussão como cozinha, algo complementar, no Cordel não. A gente busca introduzir a percussão não só como elemento rítmico pra música, mas melódico também.

Vocês estão criando um novo estilo de música, graças a questão da forte presença da poesia nas composições da banda? Chegam até a compará-los com O Teatro Mágico...
Emerson Calado: É meio difícil falar isso, porque você escuta os três discos que a gente tem e o DVD, você vê que cada um tem uma tendência, o nosso próximo pode ser completamente diferente do que a gente fez em Transfiguração e soar diferente do primeiro também. No primeiro tinha uma parte mais nossa, nossa convivência, cultura do dia-a-dia de Pernambuco. O segundo já tem aquele impacto de mudar para São Paulo, uma cidade que tem um ritmo tão diferente do nosso. O terceiro é mais calmo e também por ter viajado mais, ter feito mais shows, essas coisas foram se interando. Se a gente tivesse três discos na mesma linha...
Então fica difícil rotular, a gente curte fazer um som diferente e um disco que você escuta e parece que é outra banda. Tem pessoas que vem seguindo, mas não na questão musical, como é o Teatro Mágico, é mais na questão cênica que a gente parece muito, tem uma similaridade. A questão musical eu costumo rotular a banda como alternativa.
Emerson Calado: A gente se apresenta e tem gente que chega: ‘Nossa isso representa a raiz, a cultura do nordeste’, ou ‘o som de vocês é muito do futuro, uma música para não sei daqui a quanto tempo’, ou ‘não representa nada, representa a humanidade’.
Clayton Barros: Tanto que cada disco é um conceito, acho que se o Cordel se apegar a um rótulo ele vai deixar de fazer várias coisas e ficar pensando nisso.

O show de vocês dá grande destaque pras performances no palco.
Lirinha: Nossa principal característica é que o espetáculo é nosso principal objetivo. O Cordel do Fogo Encantado nasceu de um espetáculo, inclusive o nome da banda. Então essa relação com o público é o nosso objetivo principal, a apresentação, o espetáculo ao vivo.

Vocês se tornaram uma referência. O que é pra vocês serem uma referência?
Lirinha: Pelo menos pra mim é uma coisa nova, você abre uma revista aí vê uma banda que é inspirada em você. Ë algo que estou vivenciando agora. Como é ser uma referência é o tempo que dirá o que eu sou, será que é uma referência por que tô ficando velho?

A banda não aparece na mídia, na TV ou no rádio. Isso é bom ou ruim pra banda?
Lirinha: É muito interessante para a história desse nosso mundo. A possibilidade de uma banda viver, ter uma equipe grande, viajar o país inteiro, viver disso, e não necessariamente ter que fazer o caminho convencional das coisas. Esse é o grande ponto pra se pensar, não é ruim nem bom, o Cordel não nega convite, agora mesmo a gente fez para a Globo o programa do Milton Nascimento. Nunca a gente teve isso de não vamos fazer tal programa, não vamos fazer tv. Mas é legal perceber isso, que existe um caminho que necessariamente não passa por isso